Isolado no STF, Moraes enfrenta resistência de colegas após sanção dos EUA
Ministros rejeitam carta coletiva em apoio a Moraes e esvaziam jantar promovido por Lula; clima de divisão expõe crise institucional dentro do Supremo
Por: Redação
01/08/2025 às 07:51

Foto: Antônio Augusto/TSE
A tentativa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de obter apoio unânime de seus pares diante das sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos fracassou. Moraes pressionou os demais ministros a assinarem uma carta conjunta em sua defesa logo após tomar conhecimento da inclusão de seu nome na lista de sanções da chamada Lei Magnitsky, mas a maioria considerou a medida inadequada.
Mais da metade dos 11 ministros do STF rejeitou a proposta de uma nota coletiva com assinaturas individuais. A posição predominante foi a de que seria impróprio que o Supremo se posicionasse oficialmente contra uma decisão de política externa de outro país. O resultado decepcionou Moraes, que esperava uma demonstração unânime de solidariedade.
Diante da recusa, optou-se por uma nota institucional, assinada apenas pelo presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso. O comunicado, em tom moderado, sequer menciona os Estados Unidos ou a sanção aplicada.
Jantar frustrado e ausência estratégica
Na tentativa de ampliar o gesto de apoio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) organizou um jantar no Palácio da Alvorada na quinta-feira (31), com o objetivo de reunir os 11 ministros do STF. Lula esperava reproduzir o simbolismo da caminhada conjunta dos Três Poderes após os atos de 8 de Janeiro de 2023, com direito a foto institucional reforçando o slogan governista: “Soberania se defende”.
Mais uma vez, a adesão foi baixa: apenas seis ministros compareceram — Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Edson Fachin, Flávio Dino, Gilmar Mendes e Barroso. Os ministros André Mendonça, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux e Nunes Marques declinaram do convite.
Segundo informações, um dos presentes, Edson Fachin, teria participado contra a própria vontade. Futuro presidente da Corte, ele teria avaliado que se ausentar do jantar ao lado de seu futuro vice, Alexandre de Moraes, poderia ser prejudicial do ponto de vista institucional.
Divisão interna e desconforto com a retórica
A situação escancara um racha no STF. Entre ministros, há crescente incômodo com a postura de Moraes, que tem adotado linguagem considerada beligerante. Ao determinar recentemente a instalação de tornozeleira eletrônica no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Moraes fez menção indireta a "inimigos estrangeiros" — frase interpretada como crítica aos Estados Unidos e considerada excessiva por seus pares.
Nos bastidores, ministros afirmam que Moraes estaria “levando o Supremo a um caminho sem volta”. A percepção é de que o protagonismo político e os enfrentamentos internacionais conduzidos pelo magistrado têm contaminado a imagem institucional da Corte.
A tentativa frustrada de construir uma imagem de coesão — tanto por meio da carta quanto do jantar — acabou evidenciando a divisão. O silêncio de quase metade do STF e a ausência de cinco ministros num gesto político encabeçado pelo governo Lula indicam não apenas isolamento de Moraes, mas também desgaste crescente entre Judiciário e Planalto.
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