Lula radicaliza discurso de “ricos contra pobres” após derrota da MP da Taxação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom contra o Congresso Nacional do Brasil nesta quinta-feira (9) após a rejeição da chamada “MP da Taxação”, que previa aumento da carga tributária sobre grandes grupos econômicos, fintechs e fundos de investimento. Ao comentar a derrota, Lula retomou o discurso de enfrentamento entre “ricos e pobres”, acusando os deputados de “derrotar o povo brasileiro”.

A medida provisória foi derrubada por 251 votos a favor da retirada de pauta e 193 contrários, o que resultou em sua caducidade. O governo esperava arrecadar R$ 17 bilhões com o texto, que havia sido desidratado em cerca de R$ 3 bilhões após negociações políticas.

“Eu fico muito triste porque ontem o Congresso Nacional poderia ter aprovado para que os ricos pagassem um pouco mais de imposto. Estávamos propondo 18%, negociamos para 12% — e ainda assim eles não quiseram pagar. Eles acham que derrotaram o governo. Não derrotaram o governo, derrotaram o povo brasileiro”, declarou Lula em entrevista à Rádio Piatã FM, na Bahia.

Discurso populista e pressão sobre o sistema financeiro

O presidente disse que pretende reunir sua equipe econômica para negociar diretamente com o sistema financeiro novas formas de taxar fintechs e big techs, que segundo ele “faturam alto e pagam pouco imposto”.

“Vou reunir o governo para discutir como é que a gente vai propor que o sistema financeiro, sobretudo as fintechs, que hoje são maiores do que bancos, paguem o imposto devido a esse país”, afirmou.

A narrativa de Lula ecoa a retórica petista clássica, que busca mobilizar a base social em torno de uma disputa entre ricos e pobres — estratégia política que se intensifica à medida que o governo acumula derrotas no Congresso.

Enquanto Lula prometia nova ofensiva tributária, a oposição comemorava o resultado da votação. O líder do Partido Liberal, deputado Sóstenes Cavalcante, agradeceu o apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que teria articulado votos pela derrubada da medida.

O senador Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso, havia ameaçado parlamentares com corte de até R$ 10 bilhões em emendas caso votassem contra a MP. A estratégia fracassou, e o episódio expos mais uma fissura entre Planalto e o Legislativo.