Inadimplência atinge 30,5% das famílias brasileiras e registra maior nível desde 2010

A inadimplência das famílias brasileiras atingiu um recorde histórico de 30,5% em setembro, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É a maior taxa desde o início da série histórica, em 2010, e sinaliza o agravamento do quadro financeiro doméstico em meio a juros elevados e renda comprimida.

De acordo com a CNC, as famílias comprometem, em média, um terço da renda mensal com o pagamento de dívidas. O levantamento mostra ainda que 48,7% dos endividados estão inadimplentes há mais de 90 dias, o que demonstra uma dificuldade crescente de renegociação.

“O peso das taxas de crédito sobre o orçamento familiar e a falta de alternativas de renegociação agravam a situação, pois o valor devido se multiplica rapidamente com os encargos”, aponta o estudo.

Juros altos e crédito rotativo ampliam crise

O cartão de crédito rotativo é hoje o principal vilão do endividamento. Segundo o Banco Central, a inadimplência nessa modalidade ultrapassou 60% em setembro, refletindo o impacto direto dos juros de mais de 400% ao ano cobrados pelos bancos.

O volume total emprestado nessa linha de crédito chegou a R$ 79,4 bilhões em agosto, um aumento de 30,8% em relação a dezembro de 2024 — crescimento muito superior à média de 7% observada no crédito total.

O cenário reforça a vulnerabilidade financeira das famílias brasileiras, especialmente das classes C e D, que dependem do crédito para despesas básicas e enfrentam juros ainda mais elevados.

Especialistas alertam para “bola de neve” no crédito

Economistas avaliam que a combinação de endividamento recorde, inflação de serviços e crédito caro cria uma “bola de neve” que limita a retomada do consumo.

“Com a renda estagnada e o custo de vida alto, cresce o número de famílias que atrasam pagamentos e entram em ciclos de inadimplência que se perpetuam”, explica o economista da CNC, Marcelo Dantas.

A tendência preocupa o setor de comércio e serviços, já que o aumento da inadimplência tende a reduzir o consumo nas festas de fim de ano, período crucial para o varejo.

A CNC divulgará o relatório completo nesta quarta-feira (9.out.2025), mas analistas já projetam novo aumento da inadimplência até o fim do ano, caso não haja redução significativa nos juros e melhora no mercado de trabalho.